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Educação financeira para autistas, é possível?

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Luciana Bassanesi - Foto: Divulgação

Conforme a educadora financeira Luciana Bassanesi, a educação financeira é um território pouco desbravado para os autistas. Trata-se de uma missão que não apenas perdura, mas que se renova com um senso de urgência ao abrir as portas para a independência financeira. Ela comenta que a autoconfiança e o empoderamento são cultivados, dotando-os de ferramentas para trilharem um caminho mais sólido. Luciana diz que um dos pilares fundamentais dessa jornada é a adaptabilidade, pois a maestria está na capacidade de adaptar estratégias e atividades aos diferentes modos de
aprendizado presentes em cada criança autista. Para Bassanesi, nenhum método único é capaz de se encaixar em todas às realidades autistas, mas é nessa personalização que reside a chave para o aprendizado significativo.

Uma das características distintivas do espectro autista é a importância do aprendizado através dos sentidos. “Aqui, entra a premissa fundamental de envolver atividades sensoriais na educação financeira. Por exemplo, a classificação de moedas por tamanho ou cor não apenas comunicam conceitos financeiros, mas também estimulam o desenvolvimento sensorial. A contagem e classificação de moedas tangíveis, nessa perspectiva, oferece uma compreensão concreta e palpável de conceitos abstratos como valor e troca”, destaca.

De acordo com Luciana, recorrer a gráficos, imagens e narrativas visuais, possibilitam proporcionar às crianças autistas uma compreensão direta e acessível dos princípios financeiros. A educadora financeira aponta que gráficos simples podem ilustrar uma maneira de economizar para alcançar metas específicas, tornando o processo de poupança em algo concreto e alcançável. “A visualização reforça a compreensão, principalmente em um contexto autista onde a abstração pode ser um desafio”, ressalta.

Luciana mostra que a experiência na prática cria uma ponte entre o aprendizado e a aplicação, estimulando o desenvolvimento cognitivo e social. Ela exemplifica que um “mercado” para autistas cria cenários simulados emergindo como estratégia inovadora para a educação financeira. Essa abordagem não apenas fomenta a compreensão financeira, mas também nutre o desenvolvimento de habilidades sociais, incluindo interações e trocas. “Ao escolher produtos, efetuar pagamentos e receber troco em um ambiente controlado, os autistas não apenas aprendem conceitos financeiros, mas praticam situações da vida real”, pontua.

Ensinar aos autistas que o dinheiro deve ser gerido com discernimento, alinhado às suas aspirações e valores pessoais, é uma lição essencial, como lembra Bassanesi. Através de conversas que destacam a importância do planejamento, da perseverança e do alinhamento entre valores e gastos, eles aprendem a tomar decisões financeiras conscientes, alinhadas às suas próprias metas.

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Introduzir rotinas financeiras e celebrar conquistas modestas é um poderoso meio de auxiliar autistas a construir uma base sólida para a independência financeira. Ainda que o processo possa ser desafiador, os resultados são profundos e duradouros. “Desenvolver um plano de economia para algo especial, acompanhar o progresso, nutre o senso de realização e perseverança, demonstrando que pequenos passos podem levar a conquistas significativas”, explica.

A sociedade que muitas vezes subestima a capacidade dos autistas, a educação financeira emerge como uma ferramenta importante para construir um futuro mais independente. “Pais, educadores e comunidades são instados a explorar o potencial transformador da educação financeira personalizada para autistas. Ao proporcionar uma compreensão robusta das finanças, estamos pavimentando o caminho para sua realização e empoderamento”, finaliza.

Pães do Gabriel

Gabriel tem 12 anos. Ele é autista. Há três anos, o garoto começou a produzir pães caseiros, incentivado pela mãe, a advogada Carla Bertin. “Vou ensinar a ganhar seu dinheiro pra você poder comprar seus jogos. Peguei uma receita fácil de um pão bem gostoso. No início, eu ficava junto e moldava os pãezinhos. Todo o dinheiro conseguido era para comprar as coisinhas dele”, conta. O sucesso foi imediato. Eles começaram a fazer o trabalho de divulgação entre a vizinhança, os amigos e nos lugares frequentados pela família.

Dra. Carla Bertin - Foto: Divulgação

Dra. Carla Bertin – Foto: Divulgação

Segundo Carla, com o dinheiro conquistado através das vendas, Gabriel adquiriu joguinhos de videogame, entre outros presentes. Ela fala que a grande compra do filho foi um notebook gamer. No entanto, por ser um eletrônico caro, foi feita a proposta que os pais entrariam com a metade do valor, e o menino arcaria com a outra. “Vamos comprar parcelado. Dia dez, quando vence a fatura do cartão, você paga a sua parte da parcela, e a gente paga a nossa. Se você não tiver o valor, você fica sem usar o notebook até conseguir pagar”, detalha. A mãe de Gabriel compartilha que durante
dois meses ele atrasou o pagamento. “Ficou sem usar o computador. Ele fazia um pouco mais de pão, vendia e conseguia pagar a parte dele. Ele está supersatisfeito”, revela.

Além de ter ensinado outras pessoas a produzir pães, hoje, Gabriel cuida sozinho do seu empreendimento. A quantidade de encomendas aumentou. Ele faz as iguarias três vezes na semana. No cardápio há pães brancos, integrais, bisnaguinhas, sem lactose e veganos.

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