Saúde
Entenda os principais pontos e as formas de tratamento da dor ciática
Especialista comenta que embora a compressão nervosa seja uma causa prevalente de dor ciática, outros mecanismos, como inflamação, irritação muscular e problemas vasculares, também podem ser responsáveis
Segundo o neurocirurgião Rodolfo Carneiro, a dor no nervo ciático é primariamente causada pela compressão ou irritação das raízes espinhais lombares. As mais comuns incluem hérnia de disco lombar e estenose espinhal, que representam a maioria dos casos. Outras causas podem incluir:
Trauma e cirurgia: a neuropatia ciática pode resultar de trauma direto ou procedimentos cirúrgicos, particularmente cirurgia de substituição de quadril.
Síndrome do piriforme: envolve o aprisionamento do nervo ciático pelo músculo piriforme, levando a dor profunda nos glúteos.
Compressão vascular: raramente, a dor ciática pode ser causada por anormalidades vasculares, como varicosidades glúteas.
Lesões de massa: tumores, abscessos, outras lesões de massa na região pélvica ou glútea podem comprimir o nervo ciático.
Condições inflamatórias: neuropatias inflamatórias, embora menos comuns, também podem levar a dor no nervo ciático.
Variantes Anatômicas: variações na anatomia dos músculos da cintura pélvica e fatores funcionais, como espasmo muscular e instabilidade pélvica podem contribuir para condições como síndrome glútea profunda.
Surgimento da dor
O médico diz que nem sempre a dor surge pela compressão, embora ela comprime as raízes espinhais lombares, muitas vezes devido à hérnia de disco lombar ou estenose espinhal, seja uma causa comum de ciática. “A compressão mecânica é frequentemente implicada, mas processos inflamatórios ao redor do disco e da raiz nervosa também desempenham um papel significativo na dor radicular. Além disso, condições como a síndrome do piriforme, onde o músculo piriforme irrita o nervo ciático, podem causar ciática sem compressão direta da raiz nervosa”, pontua.
Carneiro conta que as causas vasculares, como varicosidades glúteas, também podem levar à dor ciática por mecanismos que não envolvem compressão direta. Ademais, inflamação intraneural e congestão venosa foram identificadas como fatores contribuintes para a dor radicular, sugerindo que a compressão nem sempre é necessária para o desenvolvimento da ciática.
O especialista afirma que a dor pode ocorrer nas duas pernas, embora seja mais comum de forma unilateral. Ele esclarece que a ciática bilateral é menos frequente e geralmente sugere uma patologia subjacente mais complexa ou grave. “Uma possível causa de dor ciática bilateral é a síndrome da cauda equina (CES), condição grave que envolve a compressão das raízes nervosas da cauda equina. Esta condição pode apresentar dor radicular bilateral nas pernas, com outros sintomas como anestesia em sela, disfunção da bexiga ou intestinos e nova fraqueza motora.
O Quadro Internacional para Sinais de Alerta de Patologias Espinhais Potencialmente Graves destaca que a dor radicular unilateral nas pernas progredindo para dor bilateral é uma apresentação preocupante e justifica investigação adicional.
Além disso, a dor ciática bilateral pode ocorrer devido a condições que afetam as articulações sacroilíacas. A disfunção nessas articulações pode levar à irritação bilateral do nervo ciático, como descrito na literatura”, explica.
O neurocirurgião lembra que a síndrome do piriforme é tipicamente unilateral, no entanto, pode-se apresentar bilateralmente se ambos os músculos piriformes estiverem envolvidos, levando à compressão ou irritação dos nervos ciáticos em ambos os lados.
Dor ciática e as pessoas mais velhas
Carneiro aponta que a incidência ciática atinge seu pico na quinta década de vida e permanece significativa em populações mais velhas. De acordo com o médico, as mudanças relacionadas à idade na coluna, como doença degenerativa do disco e estenose espinhal, contribuem para a maior prevalência de ciática em adultos mais velhos, apresentando quadros de dor mais complexos e maiores níveis de incapacidade em comparação com pacientes mais jovens.
O neurocirurgião reforça que as diretrizes da Sociedade Britânica de Geriatria sobre o manejo da dor em pessoas mais velhas destacam que esses indivíduos podem enfrentar desafios tanto no manejo farmacológico quanto não farmacológico da ciática devido a comorbidades e polifarmácia. “É provável que os adultos mais velhos experimentem dores que interferem nas atividades diárias, o que pode exacerbar o impacto da ciática em sua qualidade de vida”, ressalta.
Diagnóstico
Conforme o especialista, a dor ciática, frequentemente resultante de hérnia de disco lombar, é primariamente diagnosticada por histórico clínico e exame físico. Os sintomas incluem dor na extremidade inferior irradiando abaixo do joelho, acompanhada por déficits neurológicos como fraqueza motora, reflexos alterados ou mudanças sensoriais. O teste de elevação da perna reta é um procedimento diagnóstico comum. A imagem, particularmente a ressonância magnética (MRI), é indicada se os sintomas persistirem além de 6-8 semanas, se houver déficits neurológicos severos ou progressivos, ou se uma patologia subjacente diferente de hérnia de disco for suspeita.
Tratamento
O neurocirurgião salienta que o tratamento inicial para ciática é geralmente conservador. Isso inclui educação do paciente, aconselhamento para permanecer ativo, fisioterapia e analgésicos como AINEs. Injeções de corticosteroides epidurais e bloqueio na coluna podem proporcionar alívio a curto prazo em casos de dor severa.
Já a intervenção cirúrgica, tipicamente uma discectomia, é considerada para pacientes com persistência dos sintomas acima de 6-8 semanas, dor persistente, déficits neurológicos significativos ou limitações importantes da mobilidade e qualidade de vida. “A cirurgia pode ser indicada em casos de dores excruciantes, déficit neurológico agudo ou síndrome da cauda equina. A cirurgia demonstrou proporcionar alívio mais rápido comparado ao tratamento conservador, permitindo rápido retorno ao trabalho e melhora da qualidade de vida e mobilidade, embora os resultados em estudos a longo prazo sejam semelhantes. A tomada de decisão compartilhada é crucial, especialmente na ausência de sintomas neurológicos severos, sendo importante que o paciente avalie junto ao médico a melhor conduta a ser tomada”, finaliza.
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